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quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Com peixe? Tinto!



Sei, estou provocando. Os taninos dos tintos mais jovens são o fim com o marinho dos peixes em geral. Mas só em geral. Fui jantar no Amadeus munido de meia dúzia de garrafas para testar uma velha hipótese: a de que certos peixes e algumas receitas de frutos do mar funcionam muito bem com tintos evoluídos.
Levei um Riesling, o Wehlener Sonnenuhr Selbach Kabinett 2004 que serviria de curinga; um excelente branco seco de Setúbal, uma bela curiosidade, o Vale dos Alhos Sémillon 2010 (R$ 85, Via Vinum tel. 2307-4566); e dois tintos italianos, Masi Campofiorin Rosso del Veronese (1987 e 2008), com 21 anos entre eles.
Comecei com ostras, que se deram bem com os brancos. Nem tentei com os tintos: até heresias têm limites. O Riesling acentuou o salgadinho dos bivalves e ficou mais adocicado. Deu muito certo. O Sémillon mostrou-se austero, fez a companhia devida, sem protagonismo. Não apareceu e deixou as ostras brilharem. Ponto para os dois vinhos: dependendo do que se esperava deles, foram muito bem, embora o Sémillon português tenha mais densidade e corpo e deixe a boca mais feliz no dramático momento da última ostra com o último trago.
Veio então a caldeirada do comandante, que é um festival de pescados variados, todos no ponto e no caldo, produtos bem frescos e gritando: mar!
Era o que eu queria como teste. Os brancos continuaram perfeitos, mas a ideia era pôr à prova os tintos.

Primeiro o Masi mais antigo, Campofiorin 1987. Taninos finos, acidez equilibrada e corpo médio e elegante, o que os ingleses chamam claret (quando se referem a Bordeaux depois de décadas de amaciamento), um claret italiano. Delicioso com camarões, lulas, polvo e robalo. Somou sua delicadeza à dos frutos do mar. Ficou especialmente gostoso com os mariscos. Não temeu a potente qualidade oceânica dos bichos, com seu iodado e salgado, e adocicado, pois mariscos são levemente doces.

O Masi mais jovem nem era criança: o Campofiorin Rosso del Veronese 2008 (R$ 116, Via Vinum tel. 2307-4566) já tinha perdido a agressividade tânica, estava mais vivaz que o 87, com mais acidez, e foi perfeito com o polvo, lula, camarões. Roubou a cena, uma rara oportunidade de combinar mar e vinho tinto. Se o vinho está macio nos taninos, está apto ao encontro com o oceano.

por Luiz Horta

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